domingo, outubro 17, 2004

Foi o dia mais feliz da minha vida. Depois de tudo, você finalmente voltou.

Achei que não viesse mais, pensei em silêncio. Pensar era mais do que eu podia fazer então. Achei que não fazia sentido um retorno, principalmente agora. Mas você sempre foi imprevisível. E além disso, sempre fez o que quis. Desde sempre soube que era uma princesa. Desde pequena. E como tal, reinou absoluta nos teus salões. E quando eles ficaram pequenos para as tuas valsas, irrompeu teu imperialismo sobre o meu território, cruzando as minhas terras como fossem tuas. Marcou teu nome no mapa e não fez questão de diplomacia para isso. O fez a ferro e fogo. Marcou como se marca um boi. Hoje porém, o salão era meu.

Você trouxe uma rosa, vermelha. Um presente um tanto adequado, pois o vermelho era algo que me faltava já há algum tempo. Um vermelho vivo, quase sangue. A cor que transbordava da rosa, saltava ao teu rosto para me trazer as lembranças mais bonitas que guardei de você. Daquela foto que eu fiz, a mais bonita, você olhando pra mim. Tua face corada, contornando um sorriso disfarçado, quase contido, mas inevitável. Um olhar que continha as respostas à todas as perguntas que jamais existirão. Estava tudo ali naquela foto.

Enquanto eu descansava deitado ali, você ficou me olhando. Não era mais o mesmo olhar, mas você também não era a mesma depois de tantos anos, tantos dias, tantos... E enquanto olhava, um tanto incrédula de minha passividade, teus olhos se encheram de lágrimas, e as lágrimas encheram teu rosto. De sentimento e maquiagem.

Não é necessário dizer que você estava linda. Impecável. Você sempre ficou bem de vestido, embora não fosse algo que agradasse à sua personalidade expansiva. No entanto, concordava perfeitamente com as tuas curvas. E enquanto eu me entorpecia com aquela beleza melancólica, que gritava sozinha naquela sala escura iluminada somente por algumas velas e um fio teimoso do sol da tarde, o relógio bateu seis horas.

Era muito tarde.

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