sexta-feira, agosto 26, 2005

Faz-se a face

Começou com luto. Cresceu e firmou-se espessa, um negro escudo contra lábios incautos e mãos alheias em suas rondas constantes. Fundiu-se ao todo, uma máscara delineando um rosto que não aquele do espelho. Adorno de guerra, pesa como uma medalha pesa ao soldado que a carrega com orgulho e pesar. Presta a marca da virilidade responsável daquele que sente e sabe que é com os olhos é que se vê. Pois se agora já pode se dispensar as medalhas é somente pela boa companhia.

terça-feira, agosto 16, 2005

Necromantes

os ponteiros proclamam
há muito já se foram
no entanto resistem
insistem em clamar por vida
em infiltrar as vidas
dos que se salvaram
ao invés do exílio
tramado, cindido
forjado e fundido
fujo à passos largos
à galope ou ressalto
chegas sempre de assalto
fico mudo, incauto
exausto

sexta-feira, agosto 12, 2005

não me leve a sério
eu sei, não faz mal fingir que não é assim
mas quem disse que é esse o nosso jogo
não vou dar o troco só pra revidar
então faz o seguinte
deixa tudo como está e se faz de morta
que essa vida torta
só me fez assim
vira pra lá e me deixa dormir
que amanhã eu trabalho
eu te amo, caralho
e vê se me esquece
a gente carece
é de pão

sexta-feira, agosto 05, 2005

Enquanto ela pensa as palavras deslizam cortando a garganta:
- Pinta teus cabelos de preto e volta.
Os olhos dele permanecem impassíveis. Seu corpo entretanto, não sabe mentir e cede.
Minutos marcham militarmente.
Ele então responde:
- A tinta não vai levar embora o velho rude que me tornaste. Sou grosso além dos cabelos brancos.
A vida girou junto à maçaneta. O vento frio sob a porta estacionou-se sob os quatro pés.
As súplicas dela soam como uma oração.
- Meu Deus, por favor me escute! Tudo o que te peço é que volte...
Mas ele não acredita em Deus. A porta se abre lentamente.
- Não é que eu não queira, entenda. É que da morte não se pode voltar.