quarta-feira, março 30, 2005

nos olhos

Gostaria de não ter lido o jornal hoje
escolho a ignorância, a hipocrisia
antes viver na felicidade sonhadora
de todos aqueles que se rendem
à ter de sofrer a ardência nos olhos
que a verdade nua e crua traz

a violência das esquinas
os cantos afiados
prontos para o assalto
levam minha paz
minha vida, em pedaços
tiram dos meus braços
a força que restou

quarta-feira, março 23, 2005

O Sol

sobe o sol no céu azul, o sol
segue sempre, sim e sobe
sob um sem fim de calor
saio e sumo
sem rumo

terça-feira, março 15, 2005

a seguir

E seguem os dias de tortura
segue a coroa de espinhos da culpa
seguem as feridas que não se fecham nunca
segue a estiagem, o sofrimento, a fome
segue a seca, a solidão e a saudade
segue a vida, segue a morte
segue
segue
segue

quarta-feira, março 09, 2005

para ser minha

Viva intensamente
e não olhe para trás
guarde apenas o amor
aprenda a viver em paz
e seja independente

roube
a loucura dos pintores
a selvageria dos tigres
o tempero do mar
a melodia dos pássaros
a serenidade dos rios
a solidez das montanhas
o calor das praias
e o amor
de todas as pessoas
pra dividir comigo

sexta-feira, março 04, 2005

Destinos

Estava lá.
Um castelo, enorme e maravilhoso como qualquer construção que abriga em sua estrutura a força de rochas ancestrais. As pedras carregam consigo uma certa energia natural que imputa a construção uma poderosa aura de monumento universal, uma essência fundamental que toca nossas almas naquele ponto onde elas se encontram com todo o resto.
Parecia ter estado sempre ali, como se fizesse parte de todo o conjunto do vale. Fazia um conjunto perfeito com o leito estreito do rio e os dois salgueiros que se intrometiam pela extremidade sul da construção. As pessoas caminhavam com certa apreensão, pois o céu prenunciava ruidosamente o avanço de uma tempestade. As moças seguravam seus chapéus e se apressavam para entrar enquanto os homens faziam as tarefas como usual. Notava-se uma pequena diferença, pois colhiam um pouco mais de lenha que o habitual, de modo que não faltasse caso a chuva perdurasse mais de um dia. Além desses poucos preparativos, a vida seguia seu curso de forma perfeitamente normal.
No entanto, a surpresa veio bem devagar. Chegou estampada em branco nos pequenos flocos de neve que brotavam da imensa massa cinzenta que agora estampava todo o céu.
Meus olhos lacrimejaram num segundo, pois não podiam crer naquilo que se apresentava perante a sua insignificância. Agora não se via mais o Castelo, nem o vale, nem mesmo os Salgueiros... só a imensidão alva que se estendia como um lençol sobre toda a terra.
Foi a última coisa que vi.
E depois de séculos, o Castelo ainda está lá. Outros olhos agora contemplam suas magníficas linhas, que continuam belas como naquela tarde de inverno.