sábado, janeiro 22, 2005

É sempre cedo para te ver partir
levando contigo minha vontade de velar teu sono
e a vontade de te ouvir dizer
o que somente tua boca sabe
pois a minha leva a verdade à sério demais

Venham todos e sirvam-se
levem o que quiserem, fiquem à vontade
não se preocupem com a bagunça
o tempo se encarrega disso

O vento sopra forte
imita o pulso do coração
a pele ainda não leva a marca

segunda-feira, janeiro 17, 2005

Sinfonia

A música nasce irriquieta sob a pressão de peças tão díspares. Apontadas de modo acusador por mãos trêmulas, que sobrevoam feito um gavião, descendo ferozmente ao encontro da presa escolhida. E tal qual um animal abatido, soa forte um brado furioso, erguendo uma voz única. E segue-se então um coro, de feitio similar a um tecido, tramado cuidadosamente sobre a manta do tempo, servindo de leito à melodia que desliza suave, obedecendo somente à textura dessa trama. O tecido então molda-se à forma de uma montanha de geografia intensa, com elevações rápidas e depressões íngremes. A melodia sobe então hábilmente, refazendo esses contornos rochosos e seguindo até o topo gelado.
Queda.
Silêncio.
Chão.

sábado, janeiro 15, 2005

Descaminhos

Sigo ouvindo teus chamados
E a cada pedido, a cada contato
O que ficou pelo chão
Me impede de seguir adiante

E se os caminhos que traçamos antes
Não seguirem mais paralelos
Que os cruzamentos ao menos
Amenizem as distâncias

E se o sangue revela a mentira
O peito prova o contrário
Pois quem habita estas paragens
Não fica sozinho jamais


sábado, janeiro 08, 2005

Your Song

Queria escrever uma canção de amor
e ando sem palavras
Melhor assim pra não sair do tom
que eu não desafino o refrão
não me perco na métrica
deixa então o compasso
seguir a batida do peito
que o acaso faz a melodia

quinta-feira, janeiro 06, 2005

E enquanto olho teu retrato, teus olhos ainda parecem os mesmos
mas a mentira estampada no filme se revela pelo tempo que nos impõe o hoje
como a verdade absoluta que descarta o que fica pra trás

dissipa tudo o que pode vir a ser

O que pensas saber sobre mim
é nada mais que uma sombra qualquer
é como teu retrato, que pinta uma mentira disfarçada
pois tua memória vive num passado inexistente

Pois o hoje é
e nada mais


segunda-feira, janeiro 03, 2005

Seis Dias

Teus passos, lentos,
Guiam-se pelo céu
Meu choro, leve,
Esvai-se pelo ar
Em meu leito, ao vento
Espero-te,
Sem mesmo saber esperar

Teus reinos são
teus pensamentos
E preciosas são
tuas dádivas
E enquanto no peito
Guardo um coração quente
Uma saudade ardente
Aguardo-te a voltar